quarta-feira, 1 de junho de 2011

Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messiânicos que surgiu nas terras no Crato, Ceará. A comunidade era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por beato José Lourenço.
No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na Religião.
Sítio Baixa Dantas
José Lourenço trabalhava com sua família em latifúndios no sertão da Paraíba. Decidiu migrar para Juazeiro do Norte, onde conheceu Padre Cícero e ganhou sua simpatia e confiança. Em Juazeiro conseguiu arrendar um lote de terra no sitio Baixa Dantas, no município do Crato. Com bastante esforço de José Lourenço e os demais romeiros, em pouco tempo a terra prosperou, e eles produziram bastante cereais e frutas. Diferente das fazendas vizinhas, na comunidade toda a produção era dividida igualmente.
José Lourenço tornou-se líder daquele povoado, e se dedicou à religião, à caridade e a servir ao próximo. Mesmo analfabeto, era ele quem dividia as tarefas e ensinava agricultura e medicina popular. Para o sítio Baixa Dantas eram enviados, por Padre Cícero, assassinos, ladrões e miseráveis, enfim, pessoas que precisavam de ajuda para trabalhar e obter sua . Após o surgimento da Sedição de Juazeiro, da qual José Lourenço não participou, suas terras foram invadidas por jagunços. Com o fim da revolta, José Lourenço e seus seguidores reconstruíram o povoado.
Em 1921, Delmiro Gouveia presenteou Padre Cícero com um boi, chamado Mansinho, e o entregou aos cuidados de José Lourenço. Os inimigos de Padre Cícero, se aproveitaram disso espalhando boatos de que as pessoas estariam adorando o boi como a um Deus. Por conta disso, o boi foi morto e José Lourenço foi preso a mando de Floro Bartolomeu, tendo sido solto por influência de Padre Cícero alguns dias depois.
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto
O termo "caldeirão", antes de dar nome ao sítio, já designava uma falha geológica formada por pedras que se enchiam de água do riacho que por ali passa. Essa estrutura natural foi muito importante para o desenvolvimento da comunidade, porque a água ficava acumulada no "caldeirão" mesmo em tempos de seca. Além do modo de vida igualitário, o Caldeirão foi um exemplo ecológico para o Nordeste. A comunidade construiu microbarragens e açudes. Fazia também um tipo de cisterna, que cobria para evitar a evaporação, armazenando a água no subsolo.
Padre Cícero concedeu ao beato o direito de habitar uma propriedade abandonada, num pé de serra. Não demorou muito, o beato atraiu cerca de 500 famílias para o local, onde fundaram um vilarejo, a comunidade Caldeirão, no Sertão do Cariri.

A comunidade prosperou. As famílias habitavam casas simples, mas tinham trabalho, escolha, igreja, atividades culturais, religiosas e de lazer. Tudo era em sistema de mutirão e não recebia ajuda externa. O Caldeirão era formado por retirantes de diversos estados do Nordeste. Tornou-se uma comunidade auto-suficiente, até mesmo ferramentas de trabalho eram fabricadas no local.

A agricultura era tratada de forma ecologicamente correta. Os moradores do local cuidavam da preservação do solo, dos mananciais hídricos, da fauna e flora, cujas explorações atendiam às normas específicas da comunidade. Criações de bovinos e caprinos garantiam o fornecimento de carne e leite. As peles transformavam em peças de artesanato. A produção atendia ao consumo interno, e o que sobrava, vendiam para as cidades próximas como Juazeiro do Norte e Crato, gerando economia para a compra de produtos necessários à sobrevivência das famílias. A terra e os meios de produção eram de propriedade coletiva.

Balas caindo do céu
Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, a fazenda foi invadida, destruída, e os sertanejos divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova comunidade, a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com o número oficial de 400 mortos. Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará. Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil. Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde encontra-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum na qual os seguidores do Beato foram enterrados. Presumi-se que a vala coletiva encontram-se no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri).



Santa Cruz do Deserto
Composição: amélia coelho/beto lemos

O beato zé lourenço
Seguidor do padre cícero
Fez seu sonho coletivo
Com coragem e devoção
Tudo era de todos
Na fazenda caldeirão

O beato sofredor
O beato penitente
O beato resistente
O beato acolhedor
Que acolheu os retirantes
De terras distantes
Fugidos da dor

Ê milagre do boi
E o que aconteceu depois
Abriu as portas prá perseguição
Ê do sonho a devastação
O que era gritos de seca
Virou canto e louvação

E na poeira da estrada
Gente assassinada
Me aperta o coração
Uma cruel covardia
Recordo aquele dia
Foi grande a aflição

Ê milagre do boi
E o que aconteceu depois
Abriu as portas prá perseguição
Ê do sonho a devastação
Ouve-se um grito de morte
Acabou-se o caldeirão




POR: ALANA FIGUEIRÊDO, ALLISON, ANA CAROLINE, ANTONIO, CHARLENNE, FILIPE, JANIO MAYK, LUCAS, TIAGO.

Um comentário:

  1. Gostaria apenas de expressar o quanto eu fiquei admirada por ver a conservação da igreja do Caldeirão,porque não dá pra imaginar que ela tenha ficado de pé tão imponente ante ao massacre ocorrido lá.

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