O mais novo casal começa o namoro, ambos faziam muitas carícias nos quatro cantos da casa. O que começou a gerar um conflito entre Vedetina e PD, que se sentia mal com as cenas que presenciava.
No outro dia, Dr. PhD pede ao VC para pagar algumas contas da casa e para JP segui-lo e descrever todos os seus passos, prometendo uma importante recompensa.Chegando em casa, Dr. PhD. lê o relatório de JP e comenta que não está de todo mal, mas havia alguns erros, como a de ser descoberto, pois entrar no cinema foi uma farsa do VC para despistá-lo, mas parabenizou-o por descobrir o furto de VC. Apesar de que criticou o relatório Dr. PhD decidi conceder o prêmio a JP, que seria casar com Vedetina. Dr. PhD entregou duas alianças e Vedetina começou a gritar “Estamos noivos”.
No casamento, estavam todos reunidos, Dr. PhD realizou a cerimônia e os declarou marido e mulher, no entanto, ele deu o primeiro beijo em Vedetina. PD e VC desejaram felicidades ao casal. No final da festa JP e Vedetina foram direto ao quato para sua noite de núpcias.
O tempo foi passando e a rotina da casa não se alterava, o tédio foi tomando conta de JP que não agüentava mais a rotina de casado na casa de Dr. PhD. Percebendo isso, PhD resolve armar uma historinha para o grupo.
O quarteto começa a se perguntar que tipo de experimento eles estavam participando, lembram também o que o Dr. PhD prometeu para eles quando assinaram o contrato: transformar Vedetina em artista; JP em escritor; PD em uma nova mulher e VC em um velho respeitável. Indignados com ele, o grupo resolve dar uma festa na qual teria tudo que PhD proibia: bebidas, som alto, orgia.
O Dr. Phd chamou JP em seu quarto e mostrou-lhe um vestido de Vedetinha, e perguntou se ele gostava daquele vestido, JP respondeu que sim, Dr. PhD pede então que JP vista tal vestido, porque isso varia parte de um castigo embosto por ele, por causa da festa que o grupo realizou na sua ausência, assim como JP, Velho Canastrão, Vedetinha e Prima Dona trocaram as roupas e teriam que a atravessar o centro da cidade até a garagem rotativa. O quarteto então inicia o castigo, Vedetinha era a que fazia maior sucesso, JP por isso acaba se distraindo e cai durante o trajeto.
Numa tarde de domingo, Vedetinha acorda JP para que ele possa comprar um abacaxi, mesmo com preguiça JP logo deduz que o único lugar que vende abacaxi aos domingos é no estádio de futebol e que nesse exato dia ocorreria a final do campeonato entre o Atlético, time pelo qual torce, e seu rival Cruzeiro.
Dois domingos antes, o Dr. PhD reuniu o grupo para uma reunião, onde ele faria o papel de Deus e eles poderiam fazer qualquer pedido. Vedetinha inicia e faz o pedido de ser mãe, pois para ela, uma mulher se realiza apenas na maternidade. Prima Dona acaba se intrometendo e discutir com ela, dizendo é que frescura afirmar que a mulher se realiza apenas na maternidade, tento elas um legue de opções a seguir. Prima Dona era bastante feminista, acreditava que Deus era uma mulher negra, e que Eva havia precedido Adão. Deve sua infância perdida, pois estava sendo treinada para ser uma dona de casa. Desejava voltar a traz, começar tudo de novo com o conhecimento que tinha adquirido ao longo dos anos. Velho Canastrão foi o próximo e desejou o nada, queria um pouco de paz ou quem sabe a morte. Por ultimo JP desejou vencer o prêmio Nobel de Literatura.
Dois domingos depois da reunião o grupo se encontra preparando o almoço, com exceção do VC que continuava no quarto, preocupados o pessoal vão para o quarto dele, mas VC continuava em silêncio, JP entãodecide arrombar a porta do quarto, quando finalmente consegue arrombar se depara com uma cena macabra, sangue espalhado pelo chão, paredes e principalmente na cama. Dr. PhD então pede que ninguém entre no quarto, porque ele tomaria as providências necessárias para o funeral.
No dia do enterro o caixão não pode ser aberto porque segundo o Dr. PhD o corpo estava todo retalhado. O grupo então prestaram as ultimas homenagem ao amigo, PD era a mais revoltada deles e culpava o cientista pela morte do VC, para ela o doutor havia premeditado o suicídio. PD então com a ajuda do JP e Vedetinha planejam vingar a morte do VC, na hora do jantar eles põem o plano em ação, JP segura os braços do PhD enquanto a PD o fazia ele desmaiar fazendo-o cheirar um pano emudecido com clorofórmico, JP então aproveita para prepara a cova no quintal da casa, quanto termina Vederinha e PD ajuda-o a colocar o corpo lá dentro, feito JP então conclui a execução matando-o a facadas.
Surpresos com a ‘ressureição’ do VC, o grupo novamente volta para a sala, para que então o VC possa explicar o que realmente aconteceu. Ele então inicia falando que o suicídio foi ideia do Dr. PhD, e foi o mesmo que planejou tudo, ele queria demonstrar o quanto o VC era querido pelo o grupo.
No almoço o silêncio reinava, todos estavam com a consciência pesada pela morte do Dr. PhD, é então que o JP decide mudar de personagem “È só mudarmos de nome. O crime sese pode falar em crime, foi cometido pela Prima-Dona, Jovem Promissor, Vedetinha e o Velho Canastrão”(p.213). Eles decidiram então assumir novos nomes para libertassem desse sentimento de culpa. JP assumiu o nome de Escrito, PD a de Rainha, VC de Velho e Vedetinha resolveu continuar com o mesmo nome. Iniciava então uma nova fase para o quarteto.
O Escritor assumir o poder da casa, e passou a sustentar a todos com o salario que ganhava como carimbador, cargo que conseguiu graças ao seu tio que era deputado. A Rainha ficava com os deveres domésticos, enquanto Vedetinha fazia o enxoval do bebê e o Velho ficava apenas sentado lendo o jornal. Quando finalmente chegou a hora do parto, Rainha liga comunicando o nascimento da criança, era um menino, Vedetinha deu lhe o nome de Felipe. Escritor então vai até o hospital conhecer o seu filho, quanto chega lá encontra a Rainha e Vedetinha dormindo, ele então vai direto ao encontro do Felipe, um bebê gordinho, branquinho, loiro de olhos azuis, quanto o pega nos braços, Felipe sorria, e ria mais e mais, então Escritor põe novamente ele no berço e sai em direção a sua casa.
Quanto chega, Escritor vai direto para o quarto terminar o seu livro que havia interrompido por causa da gestação deVedetinha.Foi então que ele escreveu as ultimas linhas daquele livro que culminam com a descrição do sorriso do Felipe: “Um sorriso ao mesmo tempo puro e cínico, inteligente, ingênuo, debochado. Um sorriso que era principalmente herdeiro dele, Dr. Philip Harold Davis. O sorriso do Dr. PhD”. (p.240)
Análise sociológica:
A obra trata-se das observações, apontamentos e experiências realizadas pelo Dr. Philip H. Davis, um cientista americnao que pesquisa e estuda, no Brasil, o comportamento humano mediante situações mirabolantes, nas quais os personagens Jovem Promissor, Vedetinha, prima Dona e Velho Canastrão por meio de um contrato, são forçados a participar dessas experiências, como se fossem cobaias.
O método utilizado pelo Dr. PHD, baseia-se no behaviorismo e envereda para o campo da psicologia existencialista, que é uma doutrina que durante o processo de existência, a medida que o indivíduo vivencia novas experiências, ele torna-se capaz de redefinir seu próprio pensamento. Nota-se também na obra, o poder de um indivíduo sobre o coletivo, a imposição de seus desejos pessoais sob as pessoas, a forma de manipular e fazer os outros acatarem suas ordens, por meio da persuasão pelo contrato.
Destaca-se o método positivo e o individualismo utilitarista que se encaixam perfeitamente nessa temática. O método positivo parte da observação, indução e experimentação que vão de encontro com os princípios utilizados pelo Dr. Phd. Em se tratando do individualismo utilitarista este postula que “a cooperação é o resultado espontâneo das ações que os indivíduos executam visando atender os seus interesses particulares”. (QUINTANEIRO, 2009, p.68).
No ápice da história o personagem Velho Canastrão simula um suicídio, que libertaria aqueles receios que o instigavam a ver na morte uma solução. Sobre o suicídio, Durkeim diz
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[...] Suicídio [...] é um ato da pessoa e que só a ela atinge [...] A depressão, melancolia, a sensação de desamparo moral provocadas pela desintegração social tornam–se, então, causas do suicídio [...] (QUINTANEIRO, 2009, p. 83-84) |
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Utilizando como desculpa o suicídio do VC, mas internamente escondendo os seus próprios motivos, que variam desde poder, ciúme, orgulho ferido, raiva, libertação, os personagens tramam e cometem um crime contra a pessoa do Dr. PHD. Destaca–se a frieza do JP, que não sentiu nem remorso pelo o que fez “Para mim o Dr. Phd é apenas um corpo esvaziado. Deste corpo mão há de se ter piedade, amor ou ódio” (p. 201) Em se tratando deste tema, segundo Quintaneiro (2009, p. 81) “O crime provoca uma ruptura dos elos de solidariedade [...] A vingança é exercida contra o agressor na mesma intensidade com que a violação por ele perpetrada”
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A discussão acerca de Simulacros gira em torno da ideologia literária, embora mescle vários gêneros não foge ao discurso narrativo. O ponto relevante na narrativa consiste na sua composição e o desenrolar dos acontecimentos. É uma representação da realidade e não uma cópia. Os nomes das personagens estão associados às suas características, JP (Jovem Promissor) é promissor por ser jovem e bonito. Dr. PhD (Philip Harold Davis), é o produtor da história, o detentor do saber e por isso do poder. Confirmando a teoria de Francis Bacon, o último renascentista, de que saber é poder.
O livro conta a história de personagens que representam o papel de personagens encenando situações reais e ficcionais. Sendo enquadrado como meta-ficção, algo que vai além da ficção, onde até a realidade é inventada, perdendo em alguns pontos a verossimilhança, muitas vezes recapturada pela descrição de um detalhe irrelevante.
Marx apontava que a libertação da alienação só ocorreria quando os alienados se conscientizassem da sua situação e combatessem sua insatisfação pondo fim ao regime que os oprimia. Em Simulacros, foi o próprio PhD que impulsionou essa liberdade, quando simulacrizou-se de Deus e ouviu os pedidos de seus “atores”. Todos eles se concretizaram: Vedetinha engravidou, Prima Dona tonou-se líder, Velho Canastrão deixou a mediocridade – em outras palavras, morreu – ainda que falsamente, e JP usurpou o lugar de PhD.
O erotismo, em constante presença na narrativa, pode ser considerado um fetiche, pois na sociedade pós-moderna a ponte que liga o ser ao sucesso é o corpo. O sexo torna-se mercadoria, avaliado apenas de forma quantitativa, mecânica, sem nenhuma profundidade, o senso do real. A ficção antecede a fantasia. É difícil apontar se a realidade antecederia a ficção. O escritor da trama mistura o gênero erótico com o literário e teatral como se possuísse um arquivo de observação da sociedade em que está inserido. A sexualidade é explorada com intensidade em toda a obra, além de narrada é mostrada, fazendo uma aproximação com o leitor. Quando este é chocado pelo erótico
pode sugerir um desejo de ser dominado por ele
A REALIDADE COMO SIMULACRO EM SÉRGIO SANT’ANNA
O presente artigo foi produzido por Acadêmicos do Curso de Especialização em Letras, e trata mais sobre a questão do termo Simulacro dentro do contexto do livro e não se detém muito lingüísticas ou a questões sociais, é como uma espécie de estudo comparativo entre o termo simulacro criado por Baudrillard em seu livro simulacro e simulação (1988) e os personagens simulacros criados por Sérgio Sant’Anna (1977) que no final das contas acabam condizendo e fazendo parte das mesmas definições que é a realidade entrelaçada com o fantasioso.
Portanto a investigação do artigo buscou entender como o escritor localiza na sua literatura ficcional a questão da complexa instalação do sujeito em uma realidade que lhe escapa de forma incontornável. O autor percebeu que a literatura de Sant’Anna insere-se numa linha criativa que se instala na modernidade e chega até a contemporaneidade, num diálogo produtivo com obras da literatura brasileira e mundial. Suas histórias se circunscrevem em um espaço urbano tão caótico e não-acolhedor e que podemos encontrar em suas narrativas tanto o desespero e a pequenez humana face a uma realidade da qual os personagens vivem em uma espécie de trânsito existencial. No presente artigo podemos observar que fala que na literatura de Sant’Anna é como um permanente diálogo com os procedimentos narrativos fílmicos, tanto na forma discursiva como na presentificação de um imaginário cinematográfico que, na linha de pensamento exposta por Baudrillard, no qual se articula uma leitura do mundo objetivo como simulacro de uma realidade definitivamente não alcançável pelo sujeito contemporâneo.
O artigo fala do livro como a narração de um ambicioso experimento comportamental humano que consiste em criar diversas situações de simulação protagonizadas por várias personagens, cada uma em circunstâncias distintas, com intenções específicas e características próprias, sob o olhar avaliador do cientista, que acompanha de longe o percurso de suas cobaias que não estavam em nenhum momento desempenhando normalmente o seu papel social, apenas interpretavam personagens previamente articulados. E como se sabe códigos corporais e imagéticos, em qualquer época e em qualquer sociedade, acabam sendo mais facilmente expressivos do que códigos verbais para a comunicação de subjetividades, o que reforça o papel da vestimenta de cada personagem, com imagens já construídas no imaginário popular. E no contexto do livro as pessoas reagiam chocadas a estes fatos, era como se o que elas viam não fazia parte de uma imagem real e que se chegasse a ser uma realidade encontra-se entrelaçada com o fantasioso e acaba por não corresponder ao que se espera do real. Já para os transeuntes, o desconforto de não haver conexão entre o que vêem e o que o seu imaginário articula acaba por deslocá-los do espaço confortável no qual a realidade corresponde a sua experiência com a objetividade.
Na parte final da narrativa de Simulacros, a personagem Dr. PhD já não está mais viva e, portanto, as personagens restantes se encontram livres de sua influência. Apesar disso, todos optaram por seguir sua vida de representações continuando presos a uma objetividade pré-estabelecida, inclusos no eterno ciclo entre real e simulação. O bebê, chamado Felipe, simboliza a continuação e a propagação do mesmo modelo de simulação. Ou seja, a nova vida foi usada na narrativa como símbolo da permanência do antigo, já que refletia a “vitória” de PhD sobre JP. Através dessa personagem, Sant’Anna atesta a validade do simulacro como incontornável destino para os sujeitos que nele se encontram imersos, indo totalmente ao encontro da idéia de simulacro proposta por Baudrillard, que todos fazem parte de um grande ciclo de repetição e criação de simulacros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
RAMOS, Tânia Regina Oliveira. SIMULACROS & simulacros. Seminário quinzenal sobre literatura brasileira contemporânea.
LIMA, Lindomar Cavalcante de Lacerda. MENEGAZZO, Maria Adélia. Sérgio Sant’anna: um realismo erótico. Dourados, 2007.
SANT’ANNA, Sérgio. Simulacros.
QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber/ Tânia Quintaneiro, Maria Lígia de Oliveira Barbosa, Márcia Gardênia de Oliveira. 2ª edição revisada e atualizada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
http://www.uems.br/cellms/2008/documentos/32%20-%20SERGIO.pdf
http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/1204/1/DISSERTACAO_2008_GleiserMateusFValerio.pdf